segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DADOS E FATOS - Geraldo Feitosa

artigo - Diário de Pernambuco - dia 26 - página opinião

Segundo o IBGE, a partir deste ano de 2009, o Brasil contabiliza uma população de 191.480.630 habitantes. Mantidos os percentuais de cerca de 15% atribuídos pelas autoridades constituídas, ao quantitativo existente de pessoas com deficiência nos países em desenvolvimento, este segmento atinge agora a cifra de quase 30 milhões de indivíduos, ou seja, um terço da população que o Brasil tinha na década de 70. Publicados no mês de agosto, estes dados deveriam constituir-se em elemento de profunda reflexão para a sociedade brasileira, pois coincidência ou não, é neste mês que ocorre a semana nacional da pessoa com deficiência. Instituída por lei, esta semana, a qual ainda se espera, possa um dia vir a consolidar-se como um importante espaço para colocar as discussões pertinentes ao segmento em todas as esferas da sociedade, parece estar ainda muito distante de alcançar plenamente o seu objetivo; senão vejamos:

1. Apenas parte das escolas da rede pública durante esta semana, se dispõem a realizar atividades com base na temática relacionada às pessoas com deficiência, e mesmo assim, estas quando ocorrem, são basicamente naqueles estabelecimentos em que tais indivíduos se encontram matriculados, ou usufruem de algum tipo de atendimento;

2. Mesmo nessas ocasiões, em vez de se levar a efeito uma programação de caráter reflexivo, o que tem predominado é o espírito de comemoração, como se isso fosse possível, quando se sabe que em Pernambuco, menos de 1% dos quase meio milhão de pessoas com deficiência, é que tëm acesso à escola, e que estas instituições, em sua grande maioria, ainda se encontram desprovidas de qualquer recurso de acessibilidade, estando carentes até mesmo de recursos materiais e humanos;

3. No que tange aos educadores, que argumentam uma pretensa falta de preparação para trabalharem com essas pessoas, o que se observa é que nos raros momentos em que lhes é dada oportunidades de aprender sobre o assunto, não dispensam a mínima atenção aos poucos eventos emque participam, isto quando não fazem o que podem para ficar ausentes desses debates. A despeito da vigência do que se convencionou chamar política de inclusão e da existência de um sem número de Organizações governamentais e não governamentais, criadas com a finalidade de promover a insersão social deste grupo. Se estendermos nosso olhar para outros importantes aspectos da vida cotidiana, acabaremos por nos dar conta de que as pessoas com deficiência, ainda se constituem num dos grupos mais excluídos em nosso país. Prova inconteste desta afirmativa, além dos exemplos já mencionados em relação a tais indivíduos, está em sua incipiente participação no mercado de trabalho, na dificuldade de acesso aos meios de transporte e de comunicação, na inexpressiva projeção política e social que usufruem e na quase que total invisibilidade a que estes ainda são relegados em nossa sociedade. Distribuído entre os 5.565 municípios, que integram as cinco regiões brasileiras, a grande maioria destequantitativo populacional nãofoi até então devidamente alcançada pelas ações do estado. O mais curioso, é que este fato, em vez de constituir um motivo de séria preocupação, especialmente para as organizações representativas do segmento, tem sido sistematicamente ignorado pela quase totalidade dos seus dirigentes, que se comprazem em realizar eventos fechados e reuniões festivas para homenagear personalidades, tidas e havidas como benfeitoras da causa. Enquanto isto, proliferam os analfas diplomados, sedimenta-se a casta dos dirigentes perpétuos, avança o processo de autofagia no movimento organizado, progride o fenômeno da desbrailização, amplia-se o quadro dos defensores da segmentação cultural. De nossa parte, estamos certos de que estes e outros fatores, igualmentte danosos à emancipação das pessoas com deficiência, jamais poderão ser combatidos enquanto as Organizações representativas do segmento, em maior ou menor grau, estiverem atreladas ao poder constituído, do qual deveriam ter suficiente independência, para então poderem reivindicar a implementação de ações, capazes de debelar as inúmeras barreiras que ainda bloqueiam o acesso dessas pessoas ao exercício de uma cidadania plena.

http://www.diariodenatal.com.br/2010/08/27/opiniao.php

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